Margot teria ido embora, Lara Jean teria ficado, e eu?
Se eu for quem serei? Mas se ficar, o que perco?
Liminalidade – “O espaço entre o que já foi e o que ainda não é. O instante de hesitação antes de seguir em frente, o limiar entre o conhecido e o desconhecido. Onde pertencemos a tudo e a nada ao mesmo tempo.”
Sempre imaginei minha vida como um corredor infinito de portas.
Algumas entreabertas, me deixando ver um vislumbre do que há do outro lado. Outras trancadas, me fazendo imaginar se algo incrível não estaria me esperando ali, caso eu soubesse a senha. Algumas escancaradas, implorando para que eu passe por elas antes que se fechem para sempre.
Nos filmes, sempre sei o que quero que a protagonista faça. Nem sempre penso muito bem—é só um filme, né? No final, de um jeito ou de outro, sempre dá certo.
Mas, na vida real, nenhuma porta vem com garantia. Nenhuma escolha vem com a promessa de um final feliz. E, pior ainda, não há como voltar para abrir as portas que deixei passar.
Então eu fico ali, parada no corredor, olhando para todas as possibilidades sem conseguir escolher nenhuma.
Margot abriu uma porta e atravessou sem olhar para trás. Lara Jean hesitou, mas quando finalmente escolheu, decidiu levar alguém com ela.
E eu?
Ir embora é uma decisão solitária. Não importa quantas pessoas estejam ao seu redor no momento da despedida—no fim, é você quem vai. Você quem embarca, você quem olha pela janela do avião, do carro, do ônibus, e vê tudo ficando para trás. Você quem chega em um lugar novo, um lugar onde ninguém te conhece, onde ninguém sabe o que te faz rir ou o que te assusta. E isso deveria ser libertador, certo? Mas, às vezes, também assusta.
Sempre quis estudar fora. Sempre quis ver o mundo além do que conheço, testar minha coragem, me lançar no desconhecido. Mas agora, com essa realidade se aproximando, percebo o que significa, de verdade, partir. Significa que, em dois anos, tudo o que conheço vai mudar. Significa que as pessoas que amo não farão mais parte do meu dia a dia. Sou filha única. Lá, estarei sozinha. Aqui, meus pais estarão sozinhos. E então, a pergunta: ir ou ficar? Me tornar quem posso ser ou permanecer onde sou segura, onde sou conhecida? O que pesa mais: a promessa do futuro ou a estabilidade do presente?
"Sempre pensei que era a terra que me prendia aqui, mas então percebi que era a pessoa." – Willa Cather
Existe um momento em que nos perguntamos: o que é pior—ir embora ou ficar?
Ficar significa observar o mundo se mover enquanto você permanece no mesmo lugar, sentindo-se enraizado, enquanto tudo ao redor muda. Ir embora significa se jogar no desconhecido, cortando laços que, até então, pareciam impossíveis de romper. Nenhuma das opções vem sem custo.
Tem gente que nasceu para partir. Gente que não se apega ao que fica para trás porque sempre teve a certeza de que o mundo lá fora é grande demais para se limitar a um só lugar, a uma só pessoa. Essas pessoas parecem carregadas pelo vento, livres, corajosas, sem hesitação. E tem gente que nasceu para ficar. Gente que constrói raízes, que encontra na estabilidade uma forma de pertencimento. Pessoas que não partem porque acreditam que a felicidade está no que já possuem, e não no que ainda não encontraram.
Mas e quem está no meio disso? Quem sente o desejo incontrolável de ir, mas se assusta com a ideia de não pertencer a lugar nenhum? Quem não sabe se o que procura está lá fora ou se já esteve aqui o tempo todo?
A vida é feita de partidas e permanências. De quem vai sem olhar para trás e de quem fica segurando um fio invisível, torcendo para que ele não se rompa.
Margot cortou os laços para se libertar. Lara Jean se agarrou aos laços para descobrir quem era. E, entre elas, sempre soube de quem eu estaria mais perto.
Margot: a escolha de ir embora
Quando Margot termina com Josh, ele pergunta se ela ainda o ama. E ela não responde. Porque ela sabe que o amor ainda está lá. Mas sabe, também, que , se ficasse presa a um amor antigo, nunca viveria algo novo. Ela não queria carregar para a Escócia uma versão do passado, um rastro de saudade ou a culpa de não estar presente.
Margot sempre precisou ser forte. Sempre foi a irmã mais velha, a figura materna da casa. Não podia errar, não podia vacilar, não podia demonstrar indecisão. Ela precisou aprender a ser independente antes de estar pronta para isso.
E talvez por isso ela tenha escolhido ir embora sozinha. Talvez porque ficar nunca tenha sido uma opção real. Talvez porque, no fundo, ela soubesse que, se levasse Josh com ela, nunca seria realmente livre. Talvez fosse sua forma de se libertar.
E será que, um dia, ela se arrependeu?
Porque o que ninguém fala sobre ir embora é que, às vezes, dá vontade de voltar.
Lara Jean: a escolha de ficar
Lara Jean, por outro lado, sempre teve medo do desconhecido. Se entregava ao amor nos pensamentos, nos livros, nas cartas que nunca enviava, mas evitava senti-lo na realidade. Porque amar, de verdade, significava perder o controle. E ela não queria isso.
Até que Margot foi embora. E, de repente, ela não era mais a irmã do meio, a sombra de alguém. Ela podia ocupar espaço. Pela primeira vez, ela foi a mais velha, a que tomava decisões, a que saía, a que namorava. Pela primeira vez, ela foi a protagonista.
Mas no último filme, quando ela mesma precisa partir, sua escolha é diferente. Ela decide ir, mas levar Peter com ela.
E aí fica a pergunta: o que mudou?
Por que Margot deixou Josh para trás, mas Lara Jean escolheu ficar com Peter?
Talvez porque, para Lara Jean, o amor nunca foi uma ameaça à liberdade.
Para Margot, talvez fosse.
Porque ela sabia que, se tivesse escolhido ficar, nunca teria sentido que sua vida era realmente sua. E isso, eu entendo.
Mas se Margot não tivesse ido, Lara Jean teria mudado? Se Margot tivesse ficado, teria sentido que estava perdendo algo essencial?
E eu?
Sempre me identifiquei mais com Margot.
Porque sempre soube que, se um dia eu fosse, preferiria ir sozinha. Porque preciso viver algo que seja só meu. Sem laços que me puxem de volta. Sem precisar ser forte por alguém além de mim.
Não sei exatamente o que busco, mas sei que preciso do espaço para procurar. Sei que ficar significa lidar com todas as expectativas, com todos os "e se" que pairam no ar. Sei que estar perto significa ouvir as opiniões, carregar o peso do que esperam de mim. Então, às vezes, prefiro partir sozinha. Porque só assim a experiência é completamente minha.
E se Margot se sentia presa dentro do papel de irmã mais velha, talvez eu também me sinta presa na versão de mim que os outros conhecem. Como se minha liberdade só existisse longe de qualquer expectativa.
Mas ir embora sem laços também pode significar solidão. E às vezes me pergunto se a Margot nunca sentiu falta de ter alguém esperando por ela. Se, ao fechar a porta e seguir em frente, ela nunca quis olhar para trás.
"Porque, quanto mais gente entra na nossa vida, mais gente pode sair."
Talvez seja isso que me assusta.
Talvez seja por isso que, se um dia eu for, prefira ir sozinha.
"Se isso ressoou com você, então acho que, por alguns minutos, estivemos na mesma página.
E isso significa tudo para mim
. Obrigada por ler."
amei sua escrita e a maneira como você falou sobre o tema 🤍
Amiga, isso tá simplesmente PERFEITO! Que escrita perfeita! Me fez refletir muito sobre o que eu realmente quero para o futuro.